Lá naquele apartamento, naquela mesma rua de sempre, ela continuava sozinha, mas já não era a mesma.
Percebeu que sua tristeza não lhe causava mais medo, e que a felicidade lá de fora nem sempre a fazia sorrir.
Notou que aquelas sombras na parede eram tão suas como o reflexo luminoso na janela. Aprendeu que se não olhava seus diabos nos olhos, eles abriam a boca para devorá-la.
Decidiu recolher as dores do relento e trazê-las para dentro de casa. Deu de comer às alegrias sinceras e famintas. Decidiu manter os lábios entreabertos para ter sempre um pouco de susto no rosto, agora que não se assustava mais com o susto, agora que abraçava o susto e era abraçada por ele.
Emancipou-se.
2 comments to “Mudança”
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Daniel Couto Vale - 29 de outubro de 2013 at 11:53
Lili, continuo sempre admirado com o seu modo lindo de mostrar a consciência das múltiplas perspectivas e a escolha pessoal e subjetiva da melhor figura e do melhor fundo. Adoro os seus textos! Um fortíssimo abraço!
Liliane Prata - 29 de outubro de 2013 at 14:34
Daniel, sempre fico muito feliz qdo vc vem aqui e mais ainda qdo vc me conta suas impressões! Grande beijo e saudade!